quinta-feira, 14 de maio de 2009

Contos: O Gato e o Rato


Autora: Maria Hilda de J. Alão

Uma vez estava um gato caminhando entre pedras e pedaços de madeira quando foi avistado por um rato que, rapidamente, se escondeu num buraco. O gato percebeu e pensou:

- Ele vai ter de sair e eu estarei esperando.

E riu o riso dos gatos num prolongado miauuuuuuu. O pobre rato, lá no buraco, tremia imaginando o poder das unhas e dos dentes do bichano. Passou-se um bom tempo. O silêncio reinava lá fora. O ratinho apurou os ouvidos. Nada. Então colocou a cabeça para fora do buraco e usando o poder farejador dos seus bigodes, rastreou o espaço em volta. Nada. Talvez o gato tenha cansado de esperar e foi embora. Sentiu-se seguro. Devagar foi saindo ainda usando os bigodes como radar. Nada de gato. Finalmente estava fora.

Caminhou uns poucos metros e, pumba, o gato saltou na sua frente. O ratinho, apavorado, gritou:

- Pode parar!!

O gato ficou espantado com a audácia daquela criatura asquerosa, odiada pelos homens e pelos gatos, arqueou o dorso, arrepiou os pêlos, arreganhou os dentes e disse:

- Sujeito atrevido, vou acabar com você!

- Tá, tá bem, seu gato, mas antes me diga uma coisa: Por que não podemos ser amigos?

O gato riu. O riso sinistro fez o ratinho se encolher de tanto medo.

- Nunca! Jamais um gato foi amigo dum rato. Vocês são desprezíveis, burros, sinônimo de sujeira e de doença. Esse ódio aos ratos está no sangue dos felinos, sangue nobre e puro. Você conhece alguma história de gato amigo de rato? Já viu um rato vencer um gato?

- É, seu gato, acho que está carregado de razão! Respondeu o rato com a voz sumidinha.

Continuou a argumentar com o gato que maquinava o bote que daria para abocanhar o rato. Daria um bote de serpente. Não. Serpente não. Daria o pulo do gato. Aquele pulo leve, alongado, silencioso e, zaz, rato na boca. O rato percebeu a distração do gato vaidoso e disse:

- Seu gato, antes que me pegue, gostaria de fazer uma aposta com você.

- Aposta?

- É. Você disse que os ratos são burros, desqualificados. São tão nojentos que os homens tratam outros homens de rato quando eles são desonestos.

- Isso é verdade. - Respondeu o gato.

- Qual é a aposta?

- Bem, - disse o ratinho – eu gosto muito de contar gatos no meu pensamento. Eu fecho os olhos, fico em silêncio e conto: um gatinho, dois gatinhos... nunca consegui passar dos cem gatinhos. Olha que gasto duas horas contando. Talvez eu tenha o cérebro do tamanho de um grão de areia. Já você, que é bem maior, pode contar uns mil ratinhos em cinco minutos. Não é verdade?

O gato pensou no desafio. É não custava nada fazer a vontade daquele idiota. Seria a última mesmo. Estufou o peito e disse:

- Tá apostado. Pode marcar o tempo. Quando terminar eu pego você.

Não havia passado nem cinco minutos da contagem e o gato abriu um olho para ver se o rato estava cronometrando. Cadê o rato? O gato ficou possesso. Fora enganado por um rato sujo, desonesto com cara de fuinha. Miou de ódio, arranhou o chão, rolou sobre as pedras para aplacar a ira. Mas quando olhou para o buraco chorou, chorou tanto que os olhos verdes ficaram pretos como as letras do bilhete que o ratinho deixou à entrada do buraco.

“E eu é que sou burro, ah, ah, ah...”
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