domingo, 23 de setembro de 2012

Ciência-Pesquisa: Brasileiro ajuda a achar gene ligado às listras dos felinos



SÃO PAULO, SP, 23 de setembro (Folhapress) - Por que as listras no pelo de bichanos domésticos e seus parentes selvagens variam tanto, de padrões mais estreitos e definidos a marcas mais espessas, que parecem manchas? Parte da resposta está num gene que foi "caçado" por uma equipe internacional de cientistas, incluindo um biólogo da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

A descoberta de uma série de variantes genéticas ligadas à bela pelagem dos gatos e outros felinos está descrita em artigo científico na edição da semana passada da revista especializada americana "Science", uma das mais importantes do mundo.

Os pesquisadores, liderados por Christopher Kaelin, do Instituto de Biotecnologia HudsonAlpha, nos Estados Unidos, examinaram trechos do genoma de dezenas de gatos domésticos - ou não tão domésticos assim: trata-se de uma população feral (ou seja, que fugiu para a natureza) de gatos da Califórnia. Também estudaram o DNA de guepardos, o esguio felino africano que é o mais rápido dos bichos terrestres.

Ocorre que, tanto entre gatos domésticos quanto entre guepardos, as listras e pintas escuras do pelo podem aparecer em duas grandes formas: uma em que os padrões são finos e bem definidos e outras nas quais dá a impressão de que grandes quantidades de tinta foram generosamente despejadas no animal.

No caso dos guepardos, numa pequena região do sul da África, esse tipo de variação produziu um tipo de pelagem conhecida como "guepardo-rei", bem diferente das pintas mais regulares e esparsas da maioria dos felinos da espécie.

Os cientistas já tinham uma ideia geral da reunião do DNA provavelmente responsável por essa variação. Examinando mais detalhadamente esse pedaço do genoma felino, a equipe que inclui o brasileiro Eduardo Eizirik, da PUC-RS, acabou verificando, por exemplo, que todos os bichos domésticos com listras e manchas de aspecto mais "manchado", impreciso, compartilhavam alterações numa mesma região do genoma. Outros bichos, com listras mais uniformes, tinham uma variedade maior no DNA dessa região.

Alterações na mesma área estão associadas às variações nos guepardos. No fim das contas, os cientistas verificaram que as mudanças correspondiam a um único gene, que eles batizaram de Taqpep. A hipótese dos cientistas é que esse gene ajuda a esquematizar o desenho geral das manchas e listras, enquanto outros acabam produzindo pelos mais escuros ou mais claros em cada lugar.

O interessante é que esse é o primeiro gene a ser descoberto em mamíferos com associação entre pintas ou listras. A maioria dos estudos sobre a cor da pelagem, feita em camundongos, ainda não tinha sido capaz de achar esse tipo de gene porque os camundongos, como sabemos, não possuem esses desenhos no pelo. "Dessa forma, o gato doméstico passou a ser visto como um interessante modelo para um fenômeno que pode ser geral para todos os mamíferos", declarou Eizirik em comunicado oficial.

Jornal da Cidade
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