Tim-Tim, o velho gato, perguntou a boneca japonesa Tizuka, o que fazia ela, ali parada, a noite, diante de um velho balde de boca para baixo. A boneca respondeu que queria subir para sentar no balde, mas como era pequena não alcançava.
- Ora! – exclamou o gato
– Isso não é problema!
- E, abaixando-se, cedeu o seu dorso para que a boneca subisse e assim alcançasse o balde.
- Pronto, linda bonequinha!
Tizuka arrumou o quimono azul, ajeitou os cabelos negros e, muito devagar, com a elegância oriental, sentou-se no balde.
Tim-Tim estava num canto do jardim observando a boneca. Do seu trono, o balde, a boneca olhava as estrelas e a Lua que se escondia atrás de uma nuvem. Era a lua cheia.
O que Tim-Tim viu e ouviu o deixou maravilhado.
Tizuka começou a recitar versos numa língua que ele não entendia. Cada sílaba emitia um som cristalino formando uma frase musical que foi se espalhando por todo o jardim. De repente uma luz brilhante desceu do céu trazendo consigo mariposas, grilos, duendes, elfos, minúsculas fadas e todos os seres do mundo da fantasia irmanados pela beleza e musicalidade da voz da bonequinha japonesa.
Tim-Tim viu o jardim mudar de aspecto. Agora havia bonsai por todos os lados, um pequeno lago com carpas, canteiros de flores artisticamente desenhados, lanternas coloridas espalhadas por todas as árvores, havia até um pequeno templo dedicado a Buda. Seria magia?
Tizuka continuou a declamar os versos que enchiam de música o jardim fazendo com que todos os seres dançassem. Não era uma dança vertiginosa, era uma dança de leveza angelical. Ela mesma não resistiu ao encanto e, levantando-se, bailou suavemente sobre o velho balde de boca para baixo.
Foi aí que ela avistou os olhos de Tim-Tim no canto do jardim. Rápida, ela saltou do balde e correu até ele.
- Amigo, venha bailar conosco. Veja! Todos estão alegres, felizes. Vem!
– Ah, que voz tinha aquela boneca! O timbre parecia milhões de sininhos tocando delicadamente à emissão de cada palavra.
O gato, emocionado, quase pediu para ela repetir o convite só para ouvir os sininhos.
Meio sem jeito, Tim-Tim perguntou:
- Como aconteceu tudo isso? Por que mudou tudo?
- Querido amigo Tim-Tim, tudo isso que você está vendo ao seu redor é fruto da magia das palavras, é o poder da poesia que existe em cada coisa, em cada ser. Venha fazer parte desse mundo de sonho deixando que a poesia invada sua alma. Deixe que a força das palavras faça bater forte o seu coração de gatinho.
Quando Tim-Tim ia se levantar para acompanhar Tizuka, um barulho forte o assustou. Era Isadora, a menina de sete anos que entrou na sala chamando em altos brados.
- Acorda, Tim-Tim, está na hora de tomar seu leite morninho e bem gostosinho. Já são seis horas, gatinho!
Depois desse dia, todas as vezes que Tim-Tim vai dormir ele passa diante da bonequinha japonesa, que fica acomodada numa cadeirinha de balanço no quarto de Isadora, na esperança de que ela fale com ele, convidando-o para a próxima dança.
Autor: Maria Hilda de J. Alão
Gravura: Gary Patterson
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