Os sintomas principais dos gatos com infecção aguda pelo FHV-1 são febre (40°C ou mais), blefarospasmo, espirros, tosse, meneios da cabeça, secreção nasal e ocular, intensa sialorréia, anorexia e prostração.
Os espirros são esporádicos inicialmente, tornando-se cada vez mais freqüentes e paroxísticos. A secreção nasal mucopurulenta provoca a oclusão das vias aéreas superiores, de forma que o animal perde o olfato e passa a respirar com a boca aberta. O apetite vai diminuindo até cessar. A tosse é uma manifestação da laringotraqueíte. A moléstia clínica persiste no mínimo por 10 a 20 dias.
A glossite induzida pelo FHV-1 ocorre em gatos com RVF grave. As afecções orais são lesões freqüentes e características da CVF, que surgem de forma isolada ou em associação com outras formas da doença. As úlceras localizam-se geralmente na língua, palato, ângulo da mandíbula, na extremidade do focinho, e raramente, na pele, espaços interdigitais e coxins plantares. Tal alteração leva à dor intensa e à salivação profusa nos animais enfermos, motivo pelo qual eles relutam em ingerir qualquer tipo de alimento. Os animais perdem peso e desidratam facilmente, ficando suscetível às infecções bacterianas secundárias.
A secreção ocular ocasionada pelo FHV-1 é de caráter seroso inicialmente, evoluindo para secreção mucopurulenta; observa-se, então um edema conjuntival, blefarospasmo. As complicações oculares podem evoluir a vários estágios, o que inclui sinais clínicos como a ceratite intersticial, ceratite ulcerativa superficial ou profunda com descementocele, e até uma ruptura do globo ocular com perda da visão uni ou bilateral.
A infecção dos ductos lacrimais pode levar a formação de cicatrizes e oclusão dos mesmos, ocorrendo umedecimento persistente uni ou bilateral da face, causado pelo lacrimejamento; pode ainda ocorrer ceratoconjuntivite seca, embora rara no gato em decorrência da RVF. Em filhotes jovens, conjuntivite severa e ulceração na córnea concomitante resultam em simbléfaro com adesão da conjuntiva à córnea. A presença de cicatriz no epitélio corneano pode ocasionar em uma aderência entre a íris e a córnea.
O aborto pode ser uma conseqüência da infecção aguda em uma fêmea prenhe não imunizada contra FHV-1 por vacinação prévia ou por exposição natural.
Na infecção crônica pelo FHV-1, os gatos adultos podem demonstrar sinais de afecção respiratória através de espirros esporádicos e secreções nasal e ocular. A rinite e a sinusite dos seios frontais são complicações associadas ao portador crônico de RVF, em conseqüência das lesões no epitélio.
Os sinais típicos da infecção aguda pelo FCV nos gatos são: febre, anorexia, ulcerações na língua, palato e filtro nasal, periodontite, espirros, rinite, conjuntivite e secreção nasal e ocular leves. A sintomatologia do trato respiratório é variável, porém geralmente menos severa do que a RVF; a afecção nasal é branda, apresentando apenas espirros e pouco corrimento nasal. Em adição a isso, o felino acometido pelo FCV pode apresentar conjuntivite, secreção ocular serosa e quemose brandas e ainda blefarospasmo.
Os sinais clínicos dos gatos portadores crônicos do FCV são periodontite com perda precoce dos dentes, particularmente os incisivos, e escassa secreção nasal e ocular.
O controle efetivo do CRVF em populações felinas depende de uma combinação de programas de vacinação estrategicamente aplicados; da segregação dos animais por faixa etária, minimizando a exposição dos animais mais novos e susceptíveis aos eliminadores potenciais do vírus, como os gatos portadores assintomáticos; além da manutenção de um ambiente físico com baixa densidade populacional, limpo e ventilado, evitando a concentração do microrganismo.
O programa de vacinação deve ser direcionado a abranger um maior número de animais possível dentro de uma população, contudo estes animais não devem ser vacinados com uma freqüência maior do que a necessária e a imunização devem ser somente contra os agentes infecciosos que demonstram um risco real e conseqüente evolução das doenças. Os filhotes com idade inferior a 16 semanas são mais suscetíveis ao desenvolvimento da forma severa do CRVF, portanto, eles representam o principal alvo no programa de vacinação. A imunidade maternal pode perdurar por não mais que 5 a 6 semanas para RVF e 7 a 8 semanas para o CVF.
A vacina ideal contra um agente respiratório deve ser segura, não deve induzir efeitos colaterais indesejáveis, deve propiciar completa proteção contra a doença clínica quando da agressão pelo vírus de campo, e deve ainda prevenir o desenvolvimento do estado portador, quando administrada antes que tenha ocorrido a exposição natural. Infelizmente, não existe atualmente tal vacina, assim sendo, a vacinação contra o CRVF precisa ser vista como uma proteção contra a enfermidade na forma severa, e não como uma proteção contra a infecção.
As vacinas contra RVF e FCV comercializadas são do tipo vírus inativado (VI) ou com vírus mortos, ou do tipo vírus vivo modificado (VVM) ou atenuado, administradas por via parenteral. As vacinas utilizadas no CRVF são combinações, visando à proteção dos gatos contra o vírus da RVF, CVF, panleucopenia e, em alguns produtos, atuando também contra os antígenos, da clamidiose felina, da leucemia viral felina ou da raiva.
Essas vacinas conjugadas são geralmente liofilizadas, pois deste modo são bastante estáveis e, após a sua reconstituição devem ser prontamente utilizadas.
Há ainda, a vacina de VVM de uso tópico em forma de gotas, que são instiladas por via intranasal ou ocular, porém até o presente momento não está disponível no mercado brasileiro.
As vantagens do uso das vacinas com o vírus atenuado é que elas levam a um grau e duração da imunidade similar a que é induzida por uma infecção natural, sendo desta maneira mais rápida e durável. Devido aos vírus vacinais serem vivos, uma única dose é ampliada pela replicação no hospedeiro envolvido.
A replicação viral promove uma estimulação antigênica persistente de anticorpos protetores e resposta imune celular.
As vacinas com o vírus atenuado podem ser administradas também pela via natural de infecção, ou seja, nasal ou ocular, conseqüentemente induzindo uma imunidade local, revelada pela produção de IgA. Elas são ainda estimulantes mais eficientes da resposta imune celular local e sistêmica.
Em virtude das vacinas atenuadas promoverem um rápido desenvolvimento da imunidade, elas têm uma vantagem distinta no controle de surtos, onde um grande número de animais está envolvido. A desvantagem é a replicação no hospedeiro, causando infecção e, considerando a habilidade do vírus vivo em se multiplicar, há a possibilidade de reversão de sua virulência. A vantagem da vacina com o vírus inativado é a segurança. O vírus inativado não se replica no hospedeiro e, posteriormente, elimina-se a probabilidade de reversão de virulência ou a inclusão de vírions patogênicos na vacina. As vacinas inativadas são as mais indicadas para as gatas prenhes e nos felinos imunossuprimidos pela infecção pelo vírus da imunodeficiência felina. Contudo, as vacinas com o vírus inativado induzem a uma proteção curta, sendo necessárias várias aplicações, e os intervalos das revacinações são mais curtos.
O protocolo vacinal adotado pela maioria dos profissionais e recomendado pelos fabricantes, consiste na aplicação da primeira dose de vacina na 8a semana de idade por via parenteral, e uma segunda dose após três a quatro semanas, seguida de reforço anual. Todavia, ultimamente tem se sugerido uma mudança no protocolo vacinal, sendo que após o primeiro reforço anual, as próximas imunizações teriam um intervalo entre doses de três anos. Na verdade, tal mudança é suportada pela teoria de que os produtos biológicos utilizados atestam titulações de anticorpos suficientes para proteger os felinos contra o vírus da RVF, CVF e panleucopenia por mais de três anos. Sendo que, estes títulos de anticorpos declinam de forma gradual ao longo do tempo. Além disso, a memória imunológica contra estas doenças permanece por 7 anos nos felinos vacinados.
Em 1998, um protocolo vacinal para a população de baixo a moderado risco de contrair infecção pelo FHV-1 e FCV foram preconizados, e se baseia na idade do animal à primeira visita ao veterinário. Caso o animal apresente idade inferior a 12 semanas, a primeira dose da vacina, aplicada neste momento, e é seguido por outras doses administradas com intervalo de três a quatro semanas até o animal atingir a idade de 12 semanas; a dose de reforço é realizada 1 ano depois e, então, o intervalo passa a ser de 3 anos, tanto para vacinas de VVM quanto para vacinas de VI . Caso o animal se apresente à primeira visita ao veterinário com idade superior a 12 semanas, este recebe apenas uma única dose de vacina de VVM, ou uma dose de vacina de VI e uma segunda dose é repetida após 3 a 4 semanas, e então o reforço é administrado após 1 ano, quando o intervalo passa, novamente, a ser de 3 anos.
Tal surpreendente mudança no protocolo vacinal vem gerando discussões na comunidade científica, onde se questiona sobre o aumento no intervalo vacinal, visto que a vacina não possui 100% de eficácia, além disso, a imunidade reduz consideravelmente com o passar do tempo.
Outro aspecto a se considerar é o enorme potencial enzoótico destas enfermidades, além do risco que as populações de gatos errantes causam frente à disseminação das doenças. Atualmente no Brasil, não possuímos informações e pesquisas sobre a incidência e prevalência do CRVF, que nos dê suporte para implantação de um intervalo vacinal tão longo. E, devemos considerar o instinto compulsivo dos donos de gatos na aquisição de novos animais, onde uma população de baixo a moderado risco passa para uma população de alto risco.
As principais medidas de controle em abrigos e criatórios baseiam-se nos seguintes fundamentos: quarentena, segregação, identificação e intervenção precoce, e manejo ambiental. Para a introdução de novos gatos à população, devem-se tomar algumas medidas de proteção contra a infecção pelo CRVF. Estes devem ser isolados e avaliados para possíveis sinais de enfermidade por 3 semanas ou mais e devem ser testados para o FeLV e FIV, respectivamente.
Os gatos pertencentes à colônia que apresentem sintomas respiratórios devem ser permanentemente removidos e, caso permaneçam, devem ficar em recintos separados por uma distância de 1,5 metro. É conveniente a segregação por grupos homogêneos, como o grupo de gatas adultas, grupo de filhotes desmamados e dos gatos jovens; grupo de gatos machos adultos e outro grupo somente de gatas prenhes e filhotes em amamentação. Os gatinhos provenientes de mães portadoras devem se separar precocemente das mesmas, em torno das quarta ou quinta semana, idade na quais os níveis de anticorpos maternais declinam. Os felinos que apresentam sinais de doença crônica devem ser removidos ou mantidos definitivamente separados da colônia principal, bem como aqueles positivos para a infecção pelos vírus da FeLV e/ou FIV.
São de fundamental importância nos abrigos e criatórios com doença respiratória enzoótica, a diminuição da densidade populacional e o aumento da renovação de ar no recinto, para que se reduza a concentração viral.
Outra forma freqüente de propagação dos vírus da RVF e CVF é a transmissão através das mãos dos tratadores, enfermeiros e médicos veterinários, além da presença do vírus nos utensílios como fômites e vasilhas sanitárias. Portanto, a lavagem rotineira das mãos é imprescindível no manejo dos felinos sob qualquer circunstância.A desinfecção do ambiente, bem como dos utensílios é indispensável para eliminação dos vírus. O desinfetante não pode ser irritante nem tóxico para os gatos e seres humanos. Considerando a maior resistência do FCV a alguns desinfetantes, o uso do hipoclorito de sódio na concentração de 0,2% demonstra 99% de eficácia contra este vírus. Este desinfetante é o recomendado para limpeza dos gatis, mesas ambulatoriais, comedouros, bebedouros, vasilhas sanitárias, dentre outros.
No mercado brasileiro, o alvejante denominado água sanitária possui uma concentração de 2% de cloro ativo e para se chegar à concentração eficaz para eliminação dos vírus e não irritante para os felinos, dilui-se 1 litro do alvejante em 9 litros de água. As superfícies devem ser bem secas após a desinfecção, antes que o animal seja introduzido no gatil.
Fonte: “Coletâneas em Medicina e Cirurgia dos Felinos” 2003. Editora LF livros
Gravuras : Will Rafuse
Bedankt voor 't artikel,
ResponderExcluirheel interesant :)
groetjes van ons ..
Muito esclarecedor esse post.
ResponderExcluirComo tenho dois gatinhos, uma menina de 5 meses e um senhor de 14 anos, é sempre relembrarmos essas doenças.
bjs e um ótimo feriado!
Tenho 4 gatos persas, e são vacinados regularmente e 2 deles apresentaram sintomas da rinotraqueite, o que devo fazer.
ResponderExcluirAnonimo... se seus gatos são vacinados regularmente por um veterinario, sugiro q vc leve-os até quem os vacinou (ate onde sei, as vacinas importadas são 99% eficazes)diferente das nacionais, geralmente comercializadas em Petshops. Embora os sintomas q seus gatos apresentem o faça acreditar na possibilidade de virose, talvez o diagnostico seja outro.
ResponderExcluirAdorei a matéria. Msm esclarecedora! E conscientiza a necessidade de manter os bichinhos sempre com a vacinação em dia.
É sempre melhor e mais barato e menos sofrido previnir do q remediar. Adorei.Bjks. Leila